Usina,
de José Lins do Rego
Biografia
Infância
Nascido no
Engenho Corredor, município paraibano de Pilar, filho de João do Rego
Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti (morta pelo marido esquizofrênico), fez
as primeiras letras no Colégio de Itabaiana, no Instituto N. S. do Carmo e no
Colégio Diocesano Pio X na então cidade da Paraíba atual João
Pessoa. Depois estudou no Colégio Carneiro Leão e Osvaldo
Cruz, em Recife. Desde esse tempo revelaram-se seus pendores
literários. É de 1916, por exemplo, o primeiro contato com O Ateneu, de Raul Pompeia. Em 1918, aos dezessete anos, portanto, José Lins travou conhecimento com Machado de
Assis, através do Dom
Casmurro. Desde a infância, já trazia consigo outras
raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração em
geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros rebanhos humanos que a foi
formando.
Juventude e início da carreira literária
Após passar
sua infância no interior e ver de perto os engenhos de açúcar perder espaço
para as usinas, provocando muitas transformações sociais e econômicas, foi para
João Pessoa, onde fez o curso secundário e depois, para Recife, onde se matriculou em 1920, na faculdade de Direito.
Nesse
período, além de colaborar periodicamente com o Jornal do Recife, fez amizade
com Gilberto Freyre, que o influenciou e, em 1922, fundou o semanário Dom Casmurro.
Formou-se em
1923. Durante o curso, ampliou seus contatos com o meio literário
pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório
Borba, Luís Delgado, Aníbal Fernandes, e outros.
Gilberto Freyre, voltando em 1923 de uma longa temporada de estudos
universitários nos Estados Unidos, marcou uma nova fase de influências no
espírito de José Lins, através das ideias novas sobre a formação social
brasileira.
Ingressou no
Ministério Público como promotor em Manhuaçu, em 1925, onde, entretanto não se demorou. Casando em 1924 com d. Filomena (Naná) Masa Lins do Rego, transferiu-se em 1926 para a capital de Alagoas, onde passou a exercer as funções de fiscal de
bancos, até 1930, e fiscal de consumo, de 1931 a 1935. Em Maceió, tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e
passou a fazer parte do grupo de Graciliano
Ramos, Rachel de
Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco, Carlos
Paurílio e outros. Ali publicou o seu primeiro livro, Menino de
engenho (1932), chave de uma obra que se revelou de importância
fundamental na história do moderno romance brasileiro. Além das opiniões
elogiosas da crítica, sobretudo de João Ribeiro, o livro mereceu o Prêmio da
Fundação Graça Aranha. Em 1933, publicou Doidinho, o segundo livro do "Ciclo da Cana-de-Açúcar".
Perfil da obra e trajetória literária
O mundo
rural do Nordeste, com as fazendas, as senzalas e os engenhos, serviu de inspiração para a obra do autor, que
publicou seu primeiro livro - Menino de engenho - em 1932.
Como vimos,
em 1926, decidiu deixar para trás o trabalho como promotor público no interior
de Minas Gerais e transferiu-se para Maceió, Alagoas. Lá conviveu com um grupo de escritores muito especial: Graciliano
Ramos (o autor de Vidas Secas), Rachel de
Queiroz (a jovem cearense, que já publicara o romance O
Quinze), o poeta Jorge de Lima, Aurélio Buarque de Holanda (o mestre do dicionário), que se tornariam seus amigos para sempre. Convivendo neste ambiente
tão criativo, escreveu os romances Doidinho (1933) e Bangue
(1934). Daí em diante a obra de Zélins, como era chamado, não conheceu
interrupções: publicou romances, um volumes de memórias, livros de viagem, de
conferências e de crônicas. E Histórias da Velha Totônia, seu único
livro para o público infanto-juvenil, lançado em 1936.
Em 1935, mudou-se para o Rio de
Janeiro. Homem atuante participava ativamente da vida cultural de seu tempo. Gostava de conversar, tinha um jeito bonachão e era
apaixonado por futebol, ou melhor, pelo Flamengo. Seus
livros são adaptados para o cinema e traduzidos na Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Em 1957, José Lins morreu. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. A obra de José Lins do Rego é publicada pela editora José Olympio.
Despojamento
O estilo de
José Lins é inteiramente despojado e sem atitudes ou artifícios literários. Ele
próprio via a si mesmo como um escritor instintivo e espontâneo, chegando a
apontar que suas fontes da arte narrativa estavam nas ruas: "Quando imagino nos meus romances tomo sempre como
modo de orientação o dizer as coisas como elas surgem na memória, com os jeitos
e as maneiras simples dos cegos poetas." Apesar desta simplicidade
linguística com que escreve, ele descreve com muita técnica os estados
psicológicos de seus personagens, seguindo, assim, uma linha inaugurada por Proust. Além disso, ele tem um domínio da tradição literária e consegue fazer
uma crítica dos hábitos em um estilo que lembra Thomas
Hardy.
Usina,
de José Lins do Rego, possui narrativa descritiva do meio de vida nos engenhos
de açúcar e nas plantações de cana do Nordeste. Em 1936, após a publicação
dessa obra, José Lins do Rego decretou o fim do "ciclo da
cana-de-açúcar".
A obra
é excessivamente descritiva, parecendo mais uma aula de economia do que uma
obra ficcional. Neste último romance, José Lins retrata a decadência dos
engenhos por força do processo industrial das usinas, que suplantam a produção
artesanal.
Enredo
Usina
retoma a história do Moleque Ricardo, a partir de sua prisão com os
companheiros grevistas em Fernando de Noronha até o seu retorno ao engenho.
Com
pouco mais de estariam no velho Santa Rosa, que Ricardo deixara há oito anos,
fugido, como de um presídio, de uma ilha de trabalhos forçados. Escapara de lá
para não ser alugado e fora pior que isso. Tivera dores que os alugados não
sofriam nunca.
É na
segunda parte do livro que começa propriamente Usina, quando são narrados os
acontecimentos que envolvem o Santa Rosa depois que Carlos Melo, fugindo dos
problemas que envolviam o engenho, entrega seu patrimônio a parentes.
O Santa
Rosa transforma-se na Usina Bom Jesus. O Dr. Juca sonha com o prestígio,
negociando com Zé Marreira, proprietário da Fazenda São Félix, deixa-se levar
pela ambição e faz a sua primeira operação desastrosa. As hipotecas contraídas
e a pressão da Usina São Félix, na figura do Dr. Luís, terminam por forçar a
venda. A enchente do Rio Paraíba, destruindo a antiga propriedade, simboliza o
fim de um ciclo.
O
usineiro retira-se com a família em meio à destruição física dos seus antigos
domínios.
Usina é um livro sobre o que era
e o que se tornou. Sobre memória. Memória de como era os tempos em que os
senhores de engenho nordestinos, os coronéis, mandavam em tudo e em todos e
eram a elite, de como o povo vivia na tranquilidade dos bangues, na vida mansa
do campo, do moer cana. Uma vida pacata e tranquila, familiar, na qual a
mudança era rara. Uma vida em que se passava uma era inteira sem que nada de
novo acontece-se.
Mas a modernidade chegou aos campos de cana, e mudou a única coisa que precisava para poder entrar em curso: a cabeça dos senhores de engenho. Em busca de maiores lucros, de maior prestígio e poder, cresceram os olhos e começaram a implantar as Usinas, fábricas modernas de produção de açúcar e álcool, substitutas dos antigos engenhos. Todos com sonhos de grandeza entraram nessa empreitada. Assim também o fez Dr. Juca. E foi Dr. Juca que modernizou o Engenho Santa Rosa e o levou em seu sonho de grandeza. Mas foi ele também o responsável, pelo menos assim pensavam seus parentes, pela falência da empresa.
E Usina mostra exatamente a mudança de um mundo rural e familiar para um mundo empresarial, distanciado, sem alma. As mudanças nas almas dos senhores, que se tornam cada vez mais insensíveis, a pobreza da população, a degeneração da vida. Tudo movido pela ganância e sede de lucro, o luxo, as prostitutas. Um panorama do Brasil da década de 1930, época de transformações. O livro trata justamente destas transformações.
Mas a modernidade chegou aos campos de cana, e mudou a única coisa que precisava para poder entrar em curso: a cabeça dos senhores de engenho. Em busca de maiores lucros, de maior prestígio e poder, cresceram os olhos e começaram a implantar as Usinas, fábricas modernas de produção de açúcar e álcool, substitutas dos antigos engenhos. Todos com sonhos de grandeza entraram nessa empreitada. Assim também o fez Dr. Juca. E foi Dr. Juca que modernizou o Engenho Santa Rosa e o levou em seu sonho de grandeza. Mas foi ele também o responsável, pelo menos assim pensavam seus parentes, pela falência da empresa.
E Usina mostra exatamente a mudança de um mundo rural e familiar para um mundo empresarial, distanciado, sem alma. As mudanças nas almas dos senhores, que se tornam cada vez mais insensíveis, a pobreza da população, a degeneração da vida. Tudo movido pela ganância e sede de lucro, o luxo, as prostitutas. Um panorama do Brasil da década de 1930, época de transformações. O livro trata justamente destas transformações.
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